sábado, outubro 13, 2001

Monteiro Lobato - Ontem eu estava lendo o Blog do Saru e comecei a me lembrar do bom e velho sitio do Pica-Pau Amarelo e fiquei realmente com saudade, então como eu não tenho nada de interessante pra falar e estou meio sem saco pra pensar em algo, ai vai uma fabula do Titio Lobato.

A Rã e o Boi
Tomava sol à beira dum brejo uma rã e uma saracura. Nisto chegou um boi, que vinha para o bebedouro.
- Quer ver, disse a rã, como fico do tamanho desse animal ?
- Impossível rãzinha. Cada qual como Deus fez.
- Pois olhe lá ! - retorquiu a rã estufando-se toda. Não estou "quase" igual a ele ?
- Capaz ! Falta muito, amiga.
A rã estufou-se mais um bocado.
- E agora ?
- Longe ainda !
A rã fez novo esforço.
- E agora ?
- Que esperança !
A rã, concentrando todas as forças, engoliu mais ar e foi-se estufando, estufando, até que, plaf ! rebentou como um balãozinho de elástico.
O boi, que tinha acabado de beber, lançou um olhar de filósofo sobre a rã morimbunda e disse :
- Quem nasce para dez réis não chega a vintém.
- Não concordo ! - berrou Emília. Eu nasci boneca de pano, muda e feia, e hoje sou até Ex-Marquesa. Subi muito. Cheguei a muito mais que vintém. Cheguei a tostão...
- Isso não impede que a fábula esteja certa, Emília, porque os fabulistas escrevem as fábulas para as criaturas humanas e não para as criaturas inumanas como você. Você é "gentinha", não é bem gente.
Emília fez um muxoxo de pouco caso.
(...)
(Fábulas - Monteiro Lobato - vol. 3 - Editora Brasiliense S/A)

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